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Crianças de escolas de Vale de Cambra vão às urnas para aprender cidadania 

Em pleno clima eleitoral em Portugal, dezenas de crianças do Centro Escolar do Búzio (CEB) e do Centro Escolar de Arões Junqueira (CEAJ) viveram momentos de aprendizagem sobre cidadania e direito ao voto. Aqui, os candidatos são os livros e não há indecisos. 

Cristina Maria Santos 

Diego Oliveira, de 9 anos, é o presidente da mesa das eleições que decorreram na Biblioteca do Centro Escolar do Búzio, esta sexta-feira. Também ele votou no seu candidato preferido e as expectativas eram muitas, antes de saber os resultados. 

“Espero que ganhe o “Lápis Mágico de Malala” porque é um livro muito interessante, que fala sobre como mudar o mundo, explica com convicção o aluno, que, com o seu grupo, defendeu esta posição publicamente durante a campanha eleitoral, através de cartazes, videos, marcadores de livros, entre outras formas de angariar votos para o seu candidato. 

Com todo este processo, Diego Oliveira garante ter aprendido, de forma lúdica, a compreender que a política não é algo distante, mas sim a base da vida em sociedade.

À pergunta “o que farias no país, se fosses primeiro ministro?”, o aluno responde: “faria mais praças com árvores e natureza, porque, sem elas não termos oxigénio para viver”. Mas Diego gostava mesmo era de ser Presidente da Câmara de Vale de Cambra e, aqui, a primeira medida que tomaria seria “limpar as águas dos esgotos, para que toda a gente tivesse acesso a água limpa”. 

Foi esta consciência cívica, que encontrámos nos restantes membros da mesa de voto, nomeadamente Nuno Azevedo, de 9 anos, que gostaria de ser Presidente da República, “para ajudar os países a ter mais paz e a não haver mais guerras”.

Este é também um ato de inclusão. Um outro membro da mesa, era Alexandre Figuera, com 9 anos, que veio da Venezuela. É a primeira vez que contacta com um processo eleitoral e diz estar a adorar a experiência. Está em Vale de Cambra à cerca de um ano e admite ser tudo muito diferente do que tinha no seu país. 

“Esta escola é maior e mais bonita. Tem um recreio muito grande e com parque para brincar. Na minha escola não tinha biblioteca e aqui tenho uma muito grande e com muitos livros para ler”, sublinha o menino. Do que mais gosta no concelho, é do Parque da Cidade porque “tem muita natureza”. 

David Henriques, também de 9 anos, foi um dos muitos votantes que disse ao Voz de Cambra que é importante exercer este voto, para escolher o melhor livro, da mesma forma que o considerou em relação às eleições legislativas, que tanto houve falar na televisão. “Acho que as pessoas que votam querem um futuro melhor para o país”, frisa. Para isso, o aluno dá um conselho a quem for governá-lo nos próximos anos. “Deve baixar os impostos e não haver corrupção”. Para Vale de Cambra, o aluno pede “um hospital, para que as grávidas tenham aqui os seus filhos”, refere. 

Segundo a coordenadora da Escola, Sara Ferreira, o Centro Escolar do Búzio já participa há vários anos nesta iniciativa, que elege os livros preferidos das crianças e dos jovens portugueses, através da iniciativa “Miúdos a Votos” que promove a leitura e o desenvolvimento de competências de cidadania ativa. 

Para a professora Maria do Rosário Pinho, professora-bibliotecária e responsável pelo projeto, “esta é uma iniciativa que permite aos alunos compreenderem os procedimentos de umas eleições políticas; junta leitura e cidadania, dando voz aos alunos e aumentando a sua participação saudável na vida da escola, uma vez que ensina a criar um ambiente em que todas as opiniões têm um lugar e se pode pensar abertamente, em conjunto.

Também contribui, para além de desenvolver o gosto pela leitura, o relacionamento entre pares, as capacidades argumentativas, o à-vontade em falar em público, bem como a participação em atos de cidadania.” Disse ainda que “esta iniciativa é organizada pela Visão Júnior e a Rede de Bibliotecas Escolares e conta ainda com o apoio da Comissão Nacional de Eleições. O projeto desenrola-se ao longo do ano passando por várias fases, o recenseamento da escola, apresentação das candidaturas dos livros, campanha eleitoral, votação e escrutínio dos votos, organizados e participados por alunos. Durante a campanha eleitoral, os alunos defenderam os livros preferidos, com cartazes, vídeos, marcadores de livros, autocolantes, podcasts, que podem ser ouvidos no site da Visão Júnior e na Rádio Miúdos.

Em declarações ao Voz de Cambra, a vereadora da Educação, Mónica Seixas elogia todo o processo, que é semelhante ao de umas eleições políticas e, por isso, promove simultaneamente a leitura e a cidadania. 

“Este movimento cívico que dá voz às crianças que, normalmente são pouco ouvidas neste processo de decisão e proporciona-lhes uma aprendizagem que os ajudará a formar cidadãos de pleno direito”, afirma. A vereadora disse ainda ter presenciado, durante a campanha eleitoral, a defesa dos livros preferidos, junto dos seus colegas, o que considerou “um excelente exemplo de democracia”. 

Sandra Tavares, presidente da Associação de Pais do CEB, esteve presente nesta ação e considerou este projeto, uma mais-valia para as crianças perceberem que as eleições e a política que ouvem falar, todos os dias em casa e nos meios de comunicação social, não tem de ser um quebra-cabeças. A representante, lembra ainda que os pais também foram envolvidos neste projeto, ajudando os seus educandos a realizar a campanha eleitoral. 

Depois da votação na urna em massa, foram apurados os resultados que eram aguardados com entusiasmo pelos alunos. Os três membros da mesa reúnem-se com a coordenadora da Escola, Sara Ferreira, a professora responsável pelo projeto, Maria do Rosário Pinho, a vereadora da Educação, Mónica Seixas e Sandra Tavares, presidente da Associação de Pais.

Aqui, na BIBU do CEB, o livro vencedor foi “Gravity Faals: Diário 3”, sendo que, em segundo lugar ficou “O Diário de um banana: O Rodrick é Terrível” e, em terceiro, “O Tubarão na Banheira”. 

O Centro Escolar de Arões Junqueira (CEAJ) também desenvolveu o ato eleitoral “Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?”, que decorreu, “de forma cívica, empenhada e responsável” e o livro mais votado foi, em ex aequo, “O lápis Mágico de Malala” e “Porque é que os animais não conduzem?”. 

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