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Imigrantes de Cambra para o Brasil

Foto ilustrada de Adolfo Coutinho

Adolfo Coutinho

Na edição anterior procurámos dar uma ideia da enorme quantidade de residentes em Cambra que pediram passaporte para o Brasil nos anos de 1880 a 1942.

Quanto ao destino indicado nos pedidos a que tivemos acesso, cerca de 27% das fichas referem apenas, e de modo genérico, “Brasil”. Noutras, porém, vem mencionado o nome do estado ou cidade de destino. Dos 3.755 registos que já reuni na minha base de dados da “Diáspora Cambrense”, cerca de 55% indicaram o estado de Rio de Janeiro, 27%  referem genericamente o “Brasil” como destino, 10% indicam Santos, 3% seguiram para o Pará, 2% foram para São Paulo, 2% para Manaus e os restante indicaram como destino outras localidades (Baía, Campinas, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande do Sul e outras).

Curioso também verificar que residentes de diversas freguesias do nosso concelho tinham preferência por um determinado destino.  Assim, por exemplo, para Manaus foram 4 residentes em Castelões, 4 de Cepelos, 37 de Macieira, 10 de Roge e 3 de Vila Chã. Para Santos seguiram 13 de Arões, 79 de Castelões, 21 de Cepelos, 21 de Macieira, 140 de Roge e 29 de Vila Chã — sendo que 22 destes disseram residir em Vila Chã, quando, na realidade, eram naturais e residentes no Candal e Manhouce, de S. Pedro do Sul; Chave, Fermedo e Urrô, de Arouca; Cesar, Silva Escura e Rocas do Vouga e outras localidades vizinhas de Cambra. Neste caso não entendo por que razão se inscreveram no Governo Civil de Aveiro como sendo residentes em Cambra!

Quanto ao facto de vários residentes de uma determinada freguesia terem escolhido como destino uma mesma localidade brasileira, formando aí um “núcleo/colónia de Cambrenses”, poderá ser porque ali já se encontravam várias pessoas da sua família ou conterrâneos que foram antes dos mesmos lugares das então agrestes serranias de pastorícia da Freita ou do viçoso e agrícola vale de Cambra.  

Dos 140 residentes de Roge que foram para Santos alguns eram das famílias Almeida, Almeida Guerra, Barbosa de Matos, Carvalho, Costa, Costa Cabral, Fernandes, Maurício, Pinho, Tavares e outras. Por exemplo, filhos de António de Almeida Guerra e Mariana de Almeida foram para Santos, em abril de 1933, o Serafim, com 24 anos, solteiro e, em 1946, novamente o Serafim, ainda solteiro e já com 37 anos e o irmão Delfim, com 29 anos, casado. Filhos de António Maria da Costa Cabral e de Maria Rosa de Jesus foram os irmãos António e Alberto em 1929 e a irmã Alzira em 1939. Filhos de António da Costa e Luciana foram os irmãos Francisco em 1903 e Agostinho em 1908. Filhos de Joaquim e Maria Tavares foram o Custódio em 1910, o Joaquim em 1911 e o Adelino em 1934. Filhos de Manuel Alves Felgueira e Maria Rosa de Pinho foram o António e o Manuel, ambos em 1929, respetivamente com 18 e 16 anos de idade e o Serafim em 1933, com 28 anos, solteiro, etc. etc. 

Muitos mais casos poderiam ser referidos, o que tudo indica que familiares e vizinhos chamavam e auxiliavam conterrâneos seus de Cambra em determinados locais e cidades brasileiras onde tinham chegado anteriormente e já estavam estabelecidos.

Seria longa e de leitura talvez um pouco fastidiosa a análise de muitos outros pormenores relacionados com os 3.755 residentes em Cambra que, entre 1880 e 1942, pediram passaporte para o Brasil. Fico-me por aqui.

Recolha e análise de Adolfo Coutinho (Adolfo.coutinho@netcabo.pt) 

— Adolfo Coutinho

Centro de Vale de Cambra
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