Em setembro de 2024, o concelho de Vale de Cambra acabou afetado pelo incêndio com origem no concelho vizinho de Oliveira de Azeméis, com uma área afetada de cerca de 500 hectares. “Decorridos cerca de nove meses, nada foi feito”, alertou o comandante dos Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra, Victor Machado. Em entrevista ao Voz de Cambra, o também adjunto do Comando Operacional de Bombeiros de Portugal, mostra-se preocupado com o facto de a fase Delta dos incêndios – a mais crítica, que iniciou a 1 de julho e termina em 30 de setembro – seja enfrentada com menos operacionais, equipas, veículos e meios aéreos, do que os considerados necessários no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIR) para este ano.
Cristina Maria Santos
Victor Machado alertou para o facto de, no local onde foi registado o maior incêndio de 2024 – na zona centro do país e que também afetou Vale de Cambra – se verificar só ter sido retirada a madeira “com valor comercial”, mantendo-se na floresta a que não tem “estorno de venda”.
O comandante lembrou que a falta de limpeza dos terrenos florestais contribui para uma acumulação de material lenhoso e que, face ao inverno chuvoso, a floresta “recuperou bastante”, havendo necessidade de gestão, sobretudo na rede viária e nos perímetros das aldeias.
A acrescentar a este problema, o também adjunto do Comando Operacional de Bombeiros de Portugal, afirmou que, na fase critica dos incêndios que começou esta terça-feira, há menos quase 3.000 operacionais (11.161) do que em período igual do ano passado; 2.293 equipas (menos 869 face a 2024); 2.417 veículos (menos 757 do que o ano passado); e 69 meios aéreos (menos três relativamente ao ano anterior).
“Face a este comparativo, claramente, o dispositivo é menor do que no ano de 2024, ainda que segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, prevê-se necessário a mobilização, em 24 horas, de meios adicionais que podem chegar aos 15.024 elementos de 2.567 equipas e 3.411 veículos, o que pode não corresponder à verdade”, sublinhou.
Segundo o comandante, a falta de meios deve-se sobretudo à falta de recursos humanos no que concerne às equipas terrestres dos Bombeiros Voluntários, que, lembrou “são a espinha dorsal deste Dispositivo”.
“A falta de motivação relativamente a outras forças paralelas que concorrem para o mesmo fim, leva a que os mesmos deixem de integrar o Dispositivo”, reforçou.
Para além disso, Victor Machado revelou que o valor atribuído pelo Estado a cada Bombeiro Voluntário que integra este Dispositivo é de 3,13€/hora.
“Sem terem missão ainda têm de fazer as refeições à sua conta. Claramente, na sociedade atual, os nossos Bombeiros deixam de colaborar com um sistema injusto, onde são os primeiros a intervir e os últimos a sair dos Teatros de Operações”, explicou ainda.
Relativamente aos meios disponíveis para o concelho de Vale de Cambra, Victor Machado disse que, este ano, mantém-se o mesmo Dispositivo do ano transato, ou seja, uma Equipa de Combate em H24 e uma Equipa em H12 (esta só em período noturno).
“Já em 2024, fomos forçados a reduzir, pois, paralelamente, mantemos quatro Bombeiros no Heliporto de Algeriz em H24, constituindo-se por um Operador de Comunicações e três Bombeiros de assistência na questão da descolagem e aterragem da Aeronave”, declarou.
A corporação conta ainda com o restante Corpo de Bombeiros em situações de exceção, que se complementa com cinco veículos pesados de intervenção.
Ao longo dos 15 anos em que exerce as funções de comandante da corporação valecambrense, Vitor Machado tem aconselhado a população a adotar comportamentos responsáveis; a queimas e queimadas devidamente autorizadas e executadas em segurança; em alertas de Incêndio respeitar as indicações das Autoridades e; “o mais importante, estar vigilante, porque um alerta prematuro faz toda a diferença no despacho do socorro”.
“A limpeza dos terrenos é uma ação que faz a diferença na progressão e na afetação do incendio, evitando se muitas das vezes perdas avultadas para a nossa comunidade”, avisou.
Leia a entrevista na integra, na edição impressa n.º 1109 do jornal Voz de Cambra