No coração da Semana Santa, a Sexta Feira da Paixão é, sem dúvida, um momento forte de oração e de vivência cristã em S. Pedro de Castelões. Este ano, mais uma vez, tivemos a oportunidade de participar numa imensa manifestação de Fé – às 15h00m havia já centenas de pessoas congregadas no interior da igreja, absolutamente repleta, e a celebração decorreu num clima de silêncio e de oração, acompanhada pela música do Coro Paroquial, que eleva o espírito e dá força às preces entoadas neste momento forte de reflexão.
As pessoas puderam ouvir atentamente as leituras sagradas, recordando a morte e a paixão de Cristo, mas também evocar o sofrimento que, ao fim de tantos séculos, continua a marcar o nosso mundo pela angústia e pelas perdas da pandemia e de tantas outras doenças, por tantos lutos tão difíceis de superar, pelas guerras que assolam o mundo e pela guerra que acontece na Europa, pelos milhões de refugiados que procuram a segurança, pelas vítimas – todas as vítimas – de abusos e de todas as formas de violência, pelas ameaças, pela solidão e pela fome… Foram lembrados todos os que padecem de tantos males, porque em todos eles Cristo continua a sofrer e a entregar-se à Cruz.
À semelhança do que aconteceu há mais de dois mil anos, num ato piedoso e carregado de simbolismo, Cristo foi descido da Cruz. E milhares de pessoas puderam então participar neste segundo momento que, sob o sol e o calor intenso de uma autêntica tarde de Verão, encheu e percorreu as estradas, pelo meio dos campos e junto às casas decoradas com um simples símbolo da cor da paixão: era o Enterro do Senhor. A procissão, com a participação de crianças, mas também jovens e adultos de todas as idades, com trajes da época que atravessaram séculos, recriou aquilo que o Sr. Padre Luís designou como uma “catequese viva”: perante os nossos olhos, desfilaram as figuras e cenas do Evangelho, a força da Cruz e da coroa de espinhos e os diversos quadros que registamos em fotografias, porque as palavras não são suficientes.
Participaram ativamente a Irmandade de Nossa Senhora do Carmo e a da Senhora da Saúde, os Mordomos do Senhor e os Catequistas, a APDC, a Santa Casa da Misericórdia, os Escuteiros, representantes das várias associações e instituições, os algozes, os estudantes com as suas capas… e uma multidão que, em recolhimento e meditação, foi fazendo essa caminhada de Paz, em ritmo comovente, acompanhada pela Banda de Música Flor da Mocidade Junqueirense.
No final desta enorme procissão, com as crianças (os figurantes do tempo de Jesus) sentadas ao longo de toda a igreja, todos puderam ouvir o tradicional Canto de Verónica, entoado a partir dos púlpitos por quatro vozes femininas. De lá, a multidão pôde ver o Santo Sudário, o elemento simbólico de permanência intemporal.
E finalmente, numa breve exortação, surgiu o apelo do Celebrante: “Não fiquemos presos à morte, manietados e tristemente agarrados à condenação. O nosso Deus é um Deus vivo: vamos acompanhá-lo, com Esperança e com a mesma força de Fé, na alegria da Ressurreição!”
E assim aconteceu!
Texto: Graça Sousa
Fotos: Um agradecimento aos vários autores que as disponibilizaram