Numa altura de muitas dificuldades e grande apreensão assinala-se o 46º aniversário do 25 de Abril. Pelo que tem de marcante na nossa história e pelos valores que lhe estão associados não pode o Município, ainda assim, deixar de sinalizar a efeméride.
Na verdade, é este o momento de elevar a coragem e as virtudes daqueles jovens militares que, com a confiança de quem sabe estar a percorrer caminhos de futuro, nos entregaram um País livre, assente no princípio do respeito da dignidade humana e decorrente da ideia de Estado de direito democrático.
Todos nós, portugueses, temos constitucionalmente assegurado um conjunto de direitos, liberdades e garantias pessoais, mas também de participação política, sendo igualmente titulares de direitos inalienáveis de índole económica, social e cultural. E isso não é coisa de somenos. Comemorando a liberdade, afirmando a cidadania, assinalando a presença de Portugal nos mais diversos e prestigiados areópagos internacionais, percebemos que nos une o orgulho na história que temos, no povo que somos e nesta possibilidade de construir um futuro comum onde, seguramente, não abdicaremos de ser livres e do respeito pela diversidade de opinião e de ideias.
Esta é, também, a força que, vinda daquele Abril de 1974, chega até nós, hoje e aqui. E essa força mobilizadora, esse orgulho que nos motiva e incute confiança, essa combatividade por boas causas, é tanto mais necessário quanto defrontamos presentemente dificuldades de monta decorrentes do novo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19.
O nosso concelho, como os demais, vive circunstâncias tristes, com muito sofrimento, constrangimentos diversos e confinamento de pessoas.
Afastados fisicamente estamos, porém, unidos no esforço de superar as atuais dificuldades e irmanados na preocupação, comum, com o bem-estar dos nossos conterrâneos, amigos e família, com a solvabilidade das nossas empresas, comerciantes, prestadores de serviços e, ainda, com o êxito do nosso Município neste percurso, tão anómalo e difícil.
Solidarizamo-nos com as famílias enlutadas, a quem nem sequer nos podemos associar presencialmente, em horas tão dolorosas e onde uma presença amiga tanto ajuda; partilhamos o desespero dos empreendedores a quem as agruras desta crise inusitada está a destruir tanto esforço, tanto investimento e tanta expectativa em fases boas de uma vida que, agora, só indicia agonia e canseiras; comungamos da inquietude de todos quantos vêm o seu conceito de vida e o produto do seu trabalho diluir-se num desalento sofrido, ante o qual falecem as forças e quebra o ânimo.
Juntos, estamos a trabalhar com canseira para atenuar as dificuldades do percurso e encurtar a viagem com destino à normalidade, sabendo que, se nem tudo está garantido, também nada perdura para sempre. Uma palavra de particular carinho para as pessoas que, por força dos anos vividos, se encontram numa fase mais avançada da vida e, apenas por isso, constituem o grupo mais vulnerável aos efeitos nefastos da pandemia. Os anciões da nossa terra representam o que de bom temos, pelo trabalho que realizaram, pela experiência que acumularam e pela sensatez das suas apreciações, pelo que são motivo de orgulho para nós e razão de acrescido esforço nas atuais circunstâncias, que tão adversas se revelam para eles. Estamos cientes que a têmpera das gentes de Cambra será antídoto bastante para debelar a doença e superar as dificuldades que a mesma impõe. Cabe, pois, aqui e desde já, uma palavra de reconhecimento a todos, e uma exortação para que continuemos a fazer o que compete e cabe no âmbito das atribuições de cada um. O Município continuará na primeira linha deste esforço coletivo, sem desânimo e ciente de que as condições que Abril nos deu são essenciais para o cabal desempenho dessa tarefa.
Trabalhamos em liberdade, e este nosso trabalho, também ele, tem de mostrar que somos merecedores do legado que os militares de Abril, sem sede de fama ou vaidade, nos depositou em mãos.
Somos depositários dessa enorme responsabilidade de manter viva a chama da liberdade, mas também dos direitos que lhe andam associados e, desde logo, do direito à saúde e à vida, em condições de sustentabilidade e alojamento dignas, que hoje, mais do que nunca, importa propalar e defender.
O dia 25 de Abril é um dia festivo, mas serve também para reafirmar os princípios acabados de enunciar e fortalecer a determinação nesta cruzada contra todos os malefícios que presentemente nos fragilizam e preocupam.
Vamos, pois, comemorar esta data com a dignidade que merece. De modo diferente, certamente, mas aproveitando o maior isolamento para redescobrirmos a força interior que jamais deixará abafar o grito de LIBERDADE que há 46 anos ecoa na mente dos portugueses.
O Presidente da Assembleia Municipal,
Manuel Miguel Pinheiro Paiva
O Presidente da Câmara Municipal,
José Alberto Freitas Soares Pinheiro e Silva