Diáspora Cambrense
Se quisermos identificar um de- terminado antigo residente em Cambra que pediu passaporte para o Brasil entre 1882 e 1939 precisamos de ter algum cuidado, pois aparecem muitos nomes iguais. Nesses casos teremos de analisar a data em que o pedido foi feito, qual era então o estado civil do requerente, o nome dos pais e a freguesia de residência.
Se, por exemplo, quisermos encontrar António Tavares Cerejo, não teremos grande dificuldade, pois só aparece um indivíduo com este nome, filho de José Tavares Cerejo e de Maria Martins da Costa, de Junqueira. Ele pediu passaporte em três datas diferentes: em 1883 com 34 anos de idade, em 1892 com 43 e em 1899 com 50. Foi fácil e sem dúvidas.
Mas se fizermos idêntica pesquisa para Manuel José Soares já temos de ter mais cuidado. Encontramos 6 fichas com este nome: duas de um indivíduo de Castelões, filho de Tomás José Soares e de Maria Rosa, carpinteiro, que pediu passaporte em 1893, com 26 anos e novamente em 1899, com 32 anos. Mas, com o mesmo nome, temos outro Manuel José Soares, ferreiro, também de Castelões, filho de Manuel José Soares e de Maria Borges que, em 1889 e com 37 anos pediu um passaporte; outro Manuel José Soares, filho de Manuel José Soares e de Rosa Tavares, de Cepelos, que, em janeiro de 1905, solteiro e com 20 anos pediu passaporte; outro Manuel José Soares, filho de Manuel José Soares e Albina Rosa, da Formiga, que em 1910, solteiro e com 21 anos também pediu passaporte para o Rio; e ainda mais um Manuel José Soares, filho de António José Soares e de Joaquina da Ascensão, da Formiga, que, em abril de 1922, solteiro e com 10 anos de idade, pediu passaporte para o Rio. Cinco residentes em Castelões, da mesma família e um de Cepelos. É certo que com alguns nomes que não são tão vulgares e que não apa- recem várias vezes na lista de pedidos não haverá dúvidas. Por exemplo, se for- mos procurar António Ayres Martins não teremos dúvida ao encontrar apenas um, filho de José Ayres Martins e Maria Rosa
Alves, de Vila Chã que, em 1914, com 57 anos de idade, solteiro e fotógrafo foi para o Rio de Janeiro. Ou Maria Teresa Soares Cortes, casada, com 38 anos de idade, doméstica, filha de Custódio Soares Cortes e de Teresa de Jesus Carvalheira, de Arões, que em maio de 1932 foi para Santos com o marido Manuel Henriques e a filha Maria de Jesus, de 2 anos de idade.
Será também o caso de Manuel Custódio Rodrigues, filho de António Rodrigues e de Margarida Maria, de Cepelos que, em 1913, com 26 anos de idade, casado, foi para o Brasil com a esposa Engrácia Correia de 35 anos, o filho Firmino de 5 e Maria de 3 anos de idade. Um leitor da Voz de Cambra, vendo uma edição do jornal que refere a “Diáspora Cambrense” e pessoas que pediram passaporte para o Brasil pediu-me para lhe encontrar um amigo de seu avô, de nome Manuel de Almeida. Não sabiam mais nada, apenas tinham uma vaga ideia que ele era de Cepelos. Com estes dados fiz uma rápida pesquisa e encontrei 29 indivíduos com o nome “Manuel de Almeida” que tinham pedido passaporte para o Brasil entre 1882 e 1939 – 6 deles residentes em Cepelos.
Quando foi a primeira vez para o Brasil era ainda jovem, mas já estava casado. Veio a Portugal pelo menos duas vezes e, quando foi pela terceira vez teria já cerca de 46 anos – disseram-me ainda.
Com mais estes dados limitei a minha pesquisa a um Manuel de Almeida que, em 1907, casado e com 20 anos de idade, pediu um primeiro passaporte. Anos depois, em 1921, com 34 anos, voltou a pedir passaporte e finalmente em 25 de setembro de 1933, filho de Francisco de Almeida e Maria Tavares, então com 46 anos de idade, indicando Santos como destino. Pelos dados fornecidos era este.
Pesquisa e comentários de Adolfo Coutinho (Adolfo.coutinho@netcabo.pt)
Fotos: Feira de Cepelos, reprodução das fichas do pedidos