Em S. Pedro de Castelões, o Enterro do Senhor acontece desde tempos imemoriais e constitui uma forma muito especial de viver e compreender a Sexta Feira Santa. Este ano, a procissão vai sair logo após a Solene Celebração Litúrgica da Paixão do Senhor, que inicia às 15h00m.
No coração da Semana Santa, na Sexta Feira da Paixão, podemos participar nesta forma de oração especial – uma caminhada, em ritmo comovente, acompanhada pela Banda de Música de Junqueira e repleta de quadros vivos que evocam a passagem de Cristo pela terra, os apóstolos que O acompanhavam, os milagres que realizou, a ternura e o olhar atento de Maria… e tantas e tantas personagens bíblicas que são representadas pelas crianças da catequese, que estão a aderir em grande número a esta procissão.
Nesta recriação de Histórias antigas – mas que continuam a interpelar-nos neste presente, no mundo em que vivemos – encontramos uma manifestação de Fé impressionante, um momento de interiorização do ato de entrega e da Mensagem de Amor de Jesus Cristo.
As raízes deste evento perdem-se no tempo – mas a verdade é que, em S. Pedro de Castelões, o Enterro do Senhor é uma tradição que continua a conquistar o coração de pessoas de todas as idades. Os mais velhos guardam na memória a cerimónia que estruturalmente era parecida com a que se faz atualmente, mas com uma grande diferença: era concelebrada por vários sacerdotes, que acorriam à nossa freguesia durante a Semana Santa e acompanhavam a celebração com cânticos alusivos ao evento. Nesse tempo, era a Irmandade da Senhora do Carmo que presidia à organização.
De um modo geral, pessoas de todas as idades recordam os grandes “pregadores” que vinham de fora e faziam sermões extremamente emotivos, que levavam às lágrimas o auditório mais sensível. Permanecem na memória coletiva as palavras ouvidas na Igreja e os gestos piedosos de quem descia Cristo da Cruz (uma imagem de Jesus Cristo em tamanho natural, de braços articulados que se estendem, mas que depois de retirado pendem ao lado do corpo ferido…).
Hoje, as crianças e jovens continuam a aderir com entusiasmo. Essa adesão voluntária e empenhada é confirmada pelo elevado número de figurantes que, este ano, na próxima Sexta Feira Santa, vão representar as cenas bíblicas – quase duas centenas de crianças e adolescentes vão surgir vestidos a rigor, para melhor fazerem reviver esta fantástica tradição cristã da nossa paróquia.
A música também estará presente, não só através da Banda de Junqueira, como já referimos, mas também graças ao Coro Paroquial que se tem preparado com toda a dedicação. Poderemos ainda escutar o Canto de Verónica, entoado por quatro vozes femininas que irão recuperar esta tradição segundo a melodia que era usada na paróquia.
Este ano, a procissão contará também com estudantes universitários, devidamente trajados, que farão a “guarda de honra” aos andores.
Para terminar, damos a palavra ao Pároco de S. Pedro de Castelões, o Sr. Padre Luís Delindro Gonçalves, que assim nos convida à reflexão:
“Sexta-feira Santa não pode ser um momento de mera repetição mecânica de tradições e costumes. São-nos colocados diante do olhar os sinais da força das nossas violências e rejeições: a traição, a Cruz e a morte de um Inocente. Mas, num profundo contraste, também nos é dado contemplar a força dos sinais de Cristo: o perdão, a mansidão e a perseverança no caminho do Bem.
Em Sexta-feira Santa, diante das cruzes que continuamente se erguem nos nossos dias, somos convidados a um compromisso sério e radical. Que valores norteiam a minha vida? Onde continua a haver sofrimento? Onde é reclamada a minha presença e cuidado? Sexta-feira Santa não é dia de ficar apenas no passado. Contemplamos a Cruz de Cristo, os seus braços que abraçam toda a humanidade, para que o seu Amor nos mova e renove.
Sexta-feira Santa é caminho de Ressurreição.”
Texto: Graça Sousa, com a colaboração do Sr. Delfim de Almeida e do Sr. Padre Luis