O artista plástico, Vitor ferreira é o autor da nova escultura monumental que passa a marcar a rotunda da freguesia de Malhadas, no concelho de Miranda do Douro. Trata-se de um “imponente” Touro da Raça Bovina Mirandesa, com 5,50 metros de comprimento, 2 metros de altura e 90 centímetros de largura, uma obra que cruza arte contemporânea, memória coletiva e identidade territorial. A obra em aço corten homenageia a raça bovina Mirandesa e afirma a identidade transmontana na terra natal do escultor, mas também assume-se como uma ponte entre territórios como Vale de Cambra.
Cristina Maria Santos
Embora viva e trabalhe em Vale de Cambra há vários anos, o artista é natural de Miranda do Douro, assumindo-se orgulhosamente como transmontano. Foi essa ligação profunda à terra natal que esteve na origem deste projeto, lançado pelo então presidente da junta de freguesia de Malhadas, Camilo Raposo, e por Armandino Pires, membro do executivo.
O desafio era criar uma peça para a nova rotunda da freguesia, mas rapidamente se transformou num gesto simbólico de maior alcance: um artista da região, hoje radicado em Vale de Cambra, a reinterpretar artisticamente o território onde nasceu.
Uma homenagem que faltava
Após uma investigação cuidada sobre os símbolos locais, o escultor identificou uma ausência significativa no espaço público do concelho.
“A raça bovina Mirandesa, elemento central da história, da economia e da identidade cultural da região, nunca tinha sido representada escultoricamente com a dignidade que merece”, explicou o artista ao Voz de Cambra.
A escolha de Malhadas revelou-se especialmente significativa, uma vez que a freguesia acolhe o Centro de Investigação Zootécnica da Raça Bovina Mirandesa, assumindo-se como um verdadeiro berço científico e simbólico desta raça autóctone.
O touro como metáfora do povo transmontano
Longe das representações tradicionais associadas à agressividade, o touro criado pelo artista surge como “uma figura de força serena e imponência silenciosa”. A escultura avança com “passo firme, sem ameaça, simbolizando a resiliência, a determinação e a lealdade das gentes transmontanas”, referiu Vitor Ferreira.
“Quis representar um touro que caminha através do tempo, tal como o nosso povo, que nunca se detém, mesmo perante as maiores adversidades”, refere o autor, sublinhando a dimensão metafórica da obra.
Matéria que envelhece com a terra
A escultura foi executada em aço corten, material que reage ao clima e ganha carácter com o passar dos anos, “uma escolha intencional que reflete a dureza e a beleza moldadas pela intempérie” — traços que o artista associa à identidade transmontana.
A peça é composta por três elementos estruturais, unidos numa só forma, evocando a força do coletivo e da união. A base em cimento, ampla e aberta, representa o Planalto Mirandês: vasto, firme e sustentáculo de quem ali vive e de quem, mesmo vivendo fora, nunca deixa de regressar.
Uma instalação vivida como momento comunitário
A colocação da escultura na rotunda foi acompanhada com atenção e emoção pela população local.
“Carros pararam, pessoas aproximaram-se e o silêncio marcou o momento em que a peça desceu da grua, num verdadeiro espetáculo artístico ao ar livre. À noite, a iluminação confere ao touro uma presença ainda mais marcante, fazendo dele uma sentinela luminosa à entrada da freguesia”, frisou o artista, com orgulho do trabalho realizado.
Reconhecimento e agradecimentos
O escultor agradece ao antigo presidente da junta, Camilo Raposo e à atual presidente, Micaela Igreja, pela confiança depositada no projeto. Destaca ainda o contributo das empresas MáximoFera, de Vítor Castanheira, e PrimorDamas, de João Carvalho, responsáveis pela concretização técnica da obra.
O reconhecimento estende-se, sobretudo, às gentes de Malhadas e de todo o concelho de Miranda do Douro, que acolheram a escultura com orgulho e emoção.
Um símbolo entre Vale de Cambra e Miranda
Criada por um artista residente em Vale de Cambra, mas profundamente enraizado em Miranda do Douro, esta escultura assume-se como uma ponte entre territórios e gerações. Mais do que uma peça artística, o Touro Mirandês é apresentado como um espelho da identidade transmontana, um abraço à raiz e uma afirmação de futuro.
Vítor Ferreira, pintor, artista plástico e professor de Artes Visuais, é também autor de outras obras de Arte Pública, nomeadamente de dois murais de azulejos concebidos para Vale de Cambra entre 2007 e 2008.


