Nos últimos meses temos verificado uma instabilidade emocional marcada, causada por uma mudança forçada de comportamentos e rotinas. As férias não corresponderam às expetativas, passamos demasiado tempo em casa, temos pensamentos repetidos sobre questões de saúde (a maioria deles relacionados com suspeitas de infeção por COVID-19), não sabemos como será o próximo ano escolar, alguns perderam os seus empregos, outros viram os seus vencimentos ameaçados… É o ano do teste de resiliência (capacidade de nos adaptarmos às adversidades e vencermos os obstáculos que a vida nos apresenta).
O equilíbrio mental é essencial para assegurarmos a nossa vida (pessoal e profissional). O isolamento social afeta o nosso equilíbrio mental por induzir um raciocínio vicioso, devido à redução de estímulos diversos que recebíamos do meio ambiente (no trabalho, num café, num supermercado…), contribuindo para a frustração e depressão. Quando estamos em contacto com os outros, aprendemos e ensinamos continuamente. Sentimo-nos vivos e tomamos consciência da presença dos outros. Sentimos que a engrenagem da vida funciona (uns produzem, outros compram; uns gastam dinheiro em bens e outros recebem pela sua venda) na transação de bens e matérias-primas. As crianças e adolescentes crescem, aprendem novidades na escola com os professores (função que tem sido imposta aos pais nos últimos tempos). Sentimo-nos úteis e importantes quando prestamos auxílio aos outros, incluindo os desconhecidos com quem nos cruzamos. Perdemos inconscientemente o medo da doença (que um dia, inevitavelmente, nos afetará) e ganhamos energia para começar um novo dia, a cada dia. Envolvemo-nos em pequenas discussões diárias, que ajudam a libertar o nosso “stress” acumulado. Queixamo-nos dos nossos problemas e preocupações, na esperança de encontrar empatia ou de alguma sugestão de solução na qual não tenhamos pensado antes.
O confinamento alterou tudo isto. Perdemos uma parte de nós, a social. Teremos que nos adaptar às novas tecnologias para garantir um vasto leque de amizades e manter o contacto físico apenas com o nosso agregado familiar. Será também uma oportunidade para descobertas no seio familiar (novas partilhas e vivências que poderão melhorar as relações), aproveitarmos o espaço das nossas casas, experimentarmos atividades diferentes (desporto ao ar livre com os devidos cuidados, agricultura, jardinagem, bricolagem em geral, pintura…), dedicarmos algum tempo à culinária, escrevermos um livro, vermos alguns filmes/séries. Aprendemos o que é o teletrabalho. Esta fase é uma oportunidade para mudança interior. Temos que aprender a viver de forma sustentável, menos lesiva para o meio ambiente e também para a nossa mente. Cuidar da nossa saúde implica não só o bem-estar físico como psíquico (mente). Pensem nisso e iniciem algumas medidas no imediato. Não permitiremos que esta fase difícil atinja o limiar de resiliência. Teremos que ser mais fortes, para garantir que sobreviveremos intactos a uma segunda fase de infeções por COVID (que se aproxima a passos largos).
— Maria Eduarda Couto
Médica