- Festival regressou às origens na 12.ª edição e consolida-se como referência cultural fora do eixo dos grandes centros
O Cambrafest voltou a afirmar-se como um dos principais eventos de música alternativa em Portugal, colocando Vale de Cambra no roteiro nacional das bandas e da cultura alternativa. A 12.ª edição do festival, realizada em outubro, marcou um regresso às origens, tanto na data como no espírito “underground”, depois da experiência de verão em 2023.
Cristina Maria Santos
Com 15 anos de história — interrompida apenas durante a pandemia e no ano passado —, o Cambrafest – organizado pela Associação Académica de Cambra (AAC) – optou este ano por abandonar definitivamente o formato de concurso de bandas de garagem, assumindo-se plenamente como festival. Ainda assim, manteve a sua essência: dar palco a projetos emergentes e menos conhecidos, lado a lado com bandas profissionais e semiprofissionais do circuito nacional.
“O balanço foi bastante positivo”, refere a organização, destacando a forte afluência de público, impulsionada também pela entrada livre, e o crescimento expressivo na presença digital. O festival mais do que duplicou o número de seguidores no Instagram e registou um aumento significativo das interações nas redes sociais.
O cartaz reuniu bandas de várias regiões do país, confirmando a projeção nacional do evento. Subiram ao palco nomes como Them Flying Monkeys, The Black Wizards, Astra Vaga, Avesso, Faemine e Verbian, todos com atuações que, segundo a organização, demonstraram um elevado nível de qualidade artística. A programação incluiu ainda dois DJ sets de referência, com António Freitas, radialista da Antena 3, e Tutuguri (Joaquim Albano), DJ residente da Casa do Livro, no Porto, que encerraram o festival “de forma memorável”.
O Mercado Municipal de Vale de Cambra voltou a ser o palco do Cambrafest. Apesar de reconhecerem que a cidade ainda não dispõe de uma sala de espetáculos em pé totalmente dedicada a este tipo de eventos, os organizadores consideram o espaço “muito interessante” e com grande potencial. A combinação entre ambiente ao ar livre e proteção contra intempéries foi apontada como uma mais-valia, assim como a colaboração da Câmara Municipal de Vale de Cambra, coorganizadora do festival. Ainda assim, a organização deixou um pedido de desculpas aos comerciantes e moradores da zona por eventuais incómodos causados.
Entre as melhorias desejadas para o futuro estão a possibilidade de tornar as bancas do mercado amovíveis ou, em alternativa, a criação de uma sala de espetáculos em pé no edifício da Martins & Rebello, que o município pretende adquirir. “Um espaço desse género elevaria significativamente a qualidade técnica e o conforto do evento”, sublinham.
Criado em 2011 para promover bandas de garagem de Vale de Cambra, o Cambrafest evoluiu acompanhando as mudanças do panorama musical local, onde hoje existem menos projetos nesse formato. Ainda assim, o objetivo de apoiar novos talentos mantém-se. “Queremos continuar a trazer algo diferente à cidade”, refere a organização, explicando que o modelo competitivo se tornou difícil de concretizar devido à escassez de inscrições.
Os sinais de reconhecimento nacional são claros. A AAC revela receber dezenas de contactos de agentes a sugerir bandas para atuar no festival, um indicador de que o Cambrafest está “enraizado no panorama musical português”. Organizado pela Associação Académica de Cambra, uma entidade sem fins lucrativos, o evento conta com o apoio contínuo da Câmara Municipal de Vale de Cambra e de vários patrocinadores locais e regionais, fundamentais para a sua sustentabilidade.
O futuro passa por crescer de forma sustentada, envolvendo mais pessoas e reforçando parcerias. “Queremos manter o Cambrafest como o festival de rock mais antigo do distrito de Aveiro e continuar a tornar a cultura em Vale de Cambra mais dinâmica e alternativa”, afirma a organização. A ambição é clara: contribuir para a revitalização da vida noturna da cidade e recuperar o espírito que fez de Vale de Cambra, no passado, um ponto de referência para a música e o entretenimento.