Dezenas de professores, aos quais se juntaram também alunos, participaram hoje num cordão humano de protesto contra as propostas da tutela para a revisão do regime de recrutamento e o regime de colocação de professores, que terminou em frente ao edifício municipal de Vale de Cambra.
Ângela Fonseca, é licenciada há 18 anos e, apesar de sempre ter concorrido, está afastada do ensino há cerca de seis anos. Nos dois últimos anos letivos, tem sido colocada em contratos temporários, que não lhe dão direito a vinculação. Tem trabalhado noutras áreas, mas “sempre com o coração na educação”.
“No ano passado, fui colocada 15 dias antes da alteração à lei e não tive direito a um contrato até 31 de agosto. O Ministro da Educação veio dizer que três contratos anuais dão direito a vinculação, mas esquece-se de casos como o meu, em que não conseguimos esses contratos”, sublinhou ainda a professora, natural de Vale de Cambra.
Ângela participa neste cordão humano, em solidariedade aos professores que exercem a profissão, mas também representa os que não conseguem exercê-la.
“No meu caso, luto para poder voltar ao ensino”, sublinha a professora que nunca concorreu para fora da região porque não quer ficar longe da família.
“Acho que não devemos ser escravos a esse ponto. Não podemos sujeitar-nos a ficar longe da nossa família durante anos”, reforça.
As manifestações, que estão a decorrer um pouco por todo o país, revelam também a instabilidade por que passam outros trabalhadores das escolas.
Para além de professora, Ângela Fonseca tem também na família casos de assistentes operacionais que não veem a carreira a evoluir depois de vários anos de trabalho.
“A minha mãe trabalha há quase 40 anos e recebe 709 euros. Recebe tanto como um contratado que entre agora”, declara.
Em declarações ao Voz de Cambra, a professora deixa uma mensagem aos encarregados de educação e à sociedade em geral.
“Num país onde a educação não seja estruturada nem de qualidade é um país dominado”, reforça.
Clara Tavares é professora no Agrupamento de Escolas de Búzio e tem sido o rosto do descontentamento dos profissionais das escolas em Vale de Cambra. Quase todos os dias de manhã, está em frente à escola sede, com um cartaz que diz: “É por amor que luto pelos meus alunos, pela escola pública, sou professora”.
Esta terça-feira, participou também no cordão humano de professores em protesto, que partiu das escolas: Sede, Búzio e Dairas até ao Edifício Municipal da Câmara de Vale de Cambra.
Em declarações ao Voz de Cambra, Clara Tavares diz que vieram pedir colaboração ao Município para que este ajude a levar a mensagem ao Governo.
Os professores foram recebidos pelo Presidente da Câmara de Vale de Cambra, José Pinheiro que se manifestou solidário com os protestos e prometeu ajudar no que tivesse ao seu alcance.
Em declarações ao Voz de Cambra, José Pinheiro sublinha que os professores “estão a sofrer” e deu o exemplo daqueles que estão sujeitos a deslocações.
“Estarem centenas de quilómetros, criando desestruturação da família, criando-lhes mais ónus financeiro, falta de qualidade de vida e falta de equilíbrio emocional, faz com que os professores não possam ter um bom desempenho profissional”, frisa.
O edil afirma que a persistência com que as contestações então a ser feitas são um sinal a que o Governo deve dar atenção.
“As manifestações que têm vindo a ocorrer, são um sinal claro de, por um lado, da união dos professores e, por outro, de descontentamento em relação àquilo que são as políticas do Governo”, frisa.
O autarca diz que é preciso que o Governo faça o que lhe compete para que a educação possa evoluir. No que diz respeito à Câmara, recorda que tudo tem feito e continuará a fazer pelas escolas do concelho, nomeadamente no que diz respeito à transferência de competências.
“Temos todos que estar unidos na construção de um bom ensino em Vale de Cambra. A Câmara tem feito tudo o que pode para melhorar as condições das escolas. Com a transferência de competências, tentamos fazer sempre o melhor que podemos. Se o governo fizer aquilo que lhe compete e as câmaras também, as coisas podem evoluir”, reforça.
Os vereadores do Desporto, André Silva e da Educação, Mónica Seixas também receberam os professores neste manifesto.
Para a vereadora da Educação, “esta é uma manifestação cívica, para lutarem pelos seus direitos, pela sua dignidade e profissão”. Mónica Seixas, lembra que é preciso melhorar a carreira docente e também a dos assistentes operacionais.
“Estamos solidários porque o que está em causa é a qualidade do ensino das nossas crianças”, refere ao Voz de Cambra.
Relativamente ao papel da Autarquia na escola, a vereadora lembra que, para além do que são as suas competências, ainda têm oferecido formações para melhorar a qualidade de ensino no concelho.
“Não são da nossa competência, mas nós proporcionamos formações aos nossos professores, no âmbito do projeto Raízes”, explica.
A responsável diz que cabe ao Governo arranjar soluções, em conjunto com sindicatos e professores e assegura que a Câmara levará a mensagem às reuniões do conselho da Área Metropolitana do Porto e outras que venham ser realizadas com governantes.
Empunhando um cartaz com a frase de Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, os docentes concentraram-se na Escola Sede, Búzio e Dairas e depois percorreram a cidade de Vale de Cambra até chegarem à Câmara Municipal.
Às dezenas de professores, juntaram-se alunos do Agrupamento de Escolas do Búzio que traziam cartazes com a frase: “Queremos aprender a voar sem ter os nossos professores a rastejar”.
Depois da manifestação geral, em que também estiverem presentes os professores das escolas de Vale de Cambra em Lisboa, no sábado, dia 14 de janeiro, a paralisação segue em Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e termina no Porto, no dia 08 de fevereiro.
As greves por distrito desta semana serão também acompanhadas por ações de protesto. Esta terça-feira, na Praça de Melo Freitas, em Aveiro; 18, quarta-feira, no Largo das Portas de Mértola, em Beja; 19, quinta-feira, nas Arcadas, em Braga; 20, sexta-feira, na Praça da Sé, em Bragança. Além disso, segundo o SPN, haverá uma manifestação à porta do Ministério da Educação no dia 20 de janeiro às 9h30, data em que se realizará a terceira reunião negocial.
Estas greves foram convocadas pelas organizações sindicais ASPL, Fenprof, Pró-Ordem, Sepleu, Sinape, Sindep, Sipe e Spliu. Lutam contra os responsáveis do Ministério da Educação para o regime de concursos, exigem a “abertura de processos negociais que travem e revertam a desvalorização da profissão docente” e a “urgente alteração do regime de Mobilidade por Doença e solucionar outros problemas que afetam diversos grupos de docentes”.
O Ministério convocou negociações para os dias 18 e 20, mas a Fenprof explicou que as ações de luta agendas iriam manter-se, porque “a convocação de uma reunião, por si só, não altera nada”.