Vale de Cambra é uma localidade nortenha onde o culto ao santo taumaturgo – Santo António – mais entusiasmo desperta.
Vivo no Porto desde muito novo e aqui me habituei a conviver com as multidões durante os festejos de São João, que animam quase todo o Norte antes da mágica noite de 23 para 24 de junho.
Na parte final de maio, nas ruas e às portas de muitas casas, crianças e adolescentes abordavam quem passava pedindo “um tostãozinho para o Santo António”. Depois, e sobretudo para o São João, patrono de uma das grandes festividades, que mobiliza gente de todo o país e encanta estrangeiros e, até, alguns governantes e presidentes se habituaram a entrar na festa. Mais na fase final do mês (28-29 de junho) são outros os palcos para celebrar São Pedro. Salienta-se a romaria a São Pedro na cidade da Póvoa de Varzim e, às portas do Porto, num ambiente piscatório como é a zona da Afurada.
É de realçar que, não sendo o Porto a terra onde Santo António teve as suas raízes, sempre por aqui o enalteceram com as mais honrosas distinções. Há lojas e pequenos mercados de rua onde se encontram imagens de Santo António numa pequena redoma de vidro ou simplesmente com uma lâmpada acesa, numa veneração quase sem limites.
Acrescidamente, há sempre algo que nos evoca a memória do grande santo, como o Hospital de Santo António, a Igreja de Santo António dos Congregados ou a de Santo António das Antas.
Como é habitado por gentes de toda a parte e que têm ligações às suas origens, pode dizer-se que ninguém fica indiferente, pois mesmo tendo tido uma vida curta de apenas escassos 36 anos, é recordado e venerado em Portugal, no Brasil (centenas de igrejas onde o seu culto impera), Estados Unidos, Itália (Pádua), França, locais com muitas marcas do apreço que lhe é dedicado.
Breve biografia
O nosso santo franciscano doutor da Igreja nasceu em Lisboa em 1195, no dia da festa da Assunção de Maria, e morreu em Pádua em 13 de junho de 1231. Nasceu junto à Sé de Lisboa, foi-lhe dado o nome de Fernando de Bulhões e teve por pais Martim de Bulhões e D. Maria Teresa de Taveira.
O Doutor Evangélico, como também é designado, frequentou a escola da sé olisiponense e pelos 20 anos de idade professou a vida religiosa entre os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Convento de São Vicente de Fora, mudando-se dois anos depois para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde foi ordenado sacerdote com o novo nome de António – Frei António de Lisboa. Homem culto, conhecedor da filosofia grega, abriu-se à contemplação da Natureza, segundo o espírito franciscano. Em Itália as suas pregações apresentaram uma nova imagem da Igreja, em que era visível o desejo de purificação, a interiorização religiosa e a atenção aos mais pobres e mais carecidos de proteção. Conviveu com o fundador da Ordem, São Francisco de Assis, e entusiasmou multidões que desejavam ouvi-lo. Pregou em Pádua, Bolonha, e numa grande zona do Sul de França, onde ainda hoje são admirados o seu exemplo e sua sabedoria. Além de pregador, ensinou Teologia nas escolas franciscanas de Bolonha, Montpellier e Toulouse. Morreu de doença súbita em Pádua, em 1231, tendo sido canonizado no ano seguinte pelo Papa Gregório IX (30/05/1232).
Algumas Personalidades portuguesas com o seu nome
Padre António Vieira, António Egas Moniz (Nobel da Medicina, 1949), António de Spínola e António Ramalho Eanes (presidentes da República), D. António Ribeiro (Cardeal de Lisboa), D. António Barroso (venerável), D. António Ferreira Gomes e D. António Francisco dos Santos (bispos do Porto).
Expressões artísticas sobre Santo António
Pode dizer-se que não há, no mundo cultural português, qualquer ramo artístico principal que o tenha esquecido – música, filatelia, cinema, pintura, escultura ou literatura.
A bibliografia sobre Santo António é vastíssima e variada, sobretudo (mas não só) na língua portuguesa. Escritores como Júlio Dantas, Aquilino Ribeiro, Correia de Oliveira e muitos outros dedicaram-lhe páginas de encantar.
A iconografia é também extensa, em diferentes expressões artísticas e representando-o com adereços diversos: Santo António com o Menino Jesus ao colo ou com o livro, atributo dos doutores ( século XVI); o Sermão de Santo António aos Peixes, que foi fonte de inspiração para o seu grande admirador Padre António Vieira (século XVII); Santo António por Domingos Sequeira (coleção de Palmela); Santo António em adoração (em cobre, por Pedro Alexandrino); Santo António, escultura de João de Ruão (existente em Covões).
Como é de supor, a filatelia logo nos seus primórdios, ocupou-se da divulgação do nosso Doutor Evangélico, com belas peças filatélicas de várias tarifas.
Nota final
Devido à doença que o apoquentou, teve de desviar a sua rota a caminho da missionação por apelo dos mártires de Marrocos. Também devido à falta de saúde acabou por morrer muito jovem. Apesar de tudo, louvado seja Deus que nos presenteou com tal santo.
Texto: António Tavares